Reflexões - Por Ionara Nunes
Recentemente
venho tendo uma postura contemplativa em relação à algumas experiências
de minha vida. Uma dessas experiências que mais me marcou foi a
primeira viagem internacional. Era o ano de 2011. Estava em uma fase
onde havia passado em um concurso público, estava começando uma vida
nova, estava feliz e mais independente. Aproveitei a primavera na Europa
e fui conhecer a França, lindo lugar
realmente, mas ao contrário de muitas pessoas que viajam para um lugar
tão bonito, não consegui fazer turismo.
Em cada lugar que passava, via
os monumentos, as calçadas, as pessoas, os problemas, os motivos que
fizeram aquela terra ser do jeito que é e não conseguia parar de pensar
no Brasil e em suas particularidades e complexidades. Essa primeira
viagem me fez perceber que mesmo estando em um país considerado
desenvolvido, de sua população ter uma renda mais alta que a nossa, e
sua população ser mais bem educada, percebi que eles, os europeus, olham
para nós da mesma maneira. Ah que país lindo onde vocês vivem, escutava
de uns, que povo bonito e alegre, escutava de outros, vocês trabalham
muito, escutei também, o seu país é muito rico, escutava de
outros... também desmistifiquei muitas outras coisas que pensava não
existir por lá...
Presenciei pessoas pedindo esmolas, cheiro forte de
esgoto em Paris, estrangeiros vendendo falsificações das bolsas de
marcas caríssimas, assaltantes, sucateamento gradativo dos direitos
sociais e empobrecimento da população... e também um conflito social
muito forte em relação à causa Árabe... um grave problema... mas também vi
uma coisa que falta em nós e adoraria que a moda pegasse por aqui: o
conceito de coisa pública, direitos coletivos, urbanização voltada para a
coletividade e respeito ao patrimônio de todos... muitos se sentem
felizes nos metrôs de Paris ou Nova Iorque, mas não conseguem utilizar o
transporte público no Brasil, pois é coisa de pobre. Outros, respeitam
todas as civilizadas leis de trânsito da Suíça, também visitei, mas
parar para o pedestre passar na faixa é tido como um grande favor... por
que somos assim?
Seria nossa tradição colonialista que nos traz no
íntimo uma admiração pela cidadania desenvolvida na Europa, mas que nos
sentimos desmerecedores dela? E afinal por que acreditamos que a
cidadania aqui tem que ser aliada a dinheiro? E porque muitos em vez de
tentar fazer de sua pátria mais civilizada e decente prefere ir embora
para viver em um lar mais civilizado? Será que esses que assim pensam
não sabem que os europeus são mais civilizados e mais organizados porque
lutaram muito e se sacrificaram durante séculos e primeiramente se
valorizaram para depois adquirirem o respeito do resto do mundo?
Então...essa foi a maior lição que as viagens que fiz e faço me
trouxeram...um entendimento de que problemas existem em qualquer lugar e
que se quisermos nos valorizar e respeitar enquanto povo e nação,
precisamos nos reconhecer, valorizar e nos unir para superar nossos
problemas, como os europeus fizeram no passado e continuam fazendo
hoje...
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