Reflexões - Por Ionara Nunes
Eis que ele está em casa, de volta para nós. Eu como filha posso dizer
que é muito bom ver o pai vivo em casa. Ainda com escoriações e
mancando, de muletas e reclamando de dores, mas dormindo tranquilo em
sua cama, no conforto de seu lar. Foram ao todo catorze dias de agonias e
forçado controle emocional, em alguns momentos a revolta por ver alguém
que estava ótimo agora deitado...mas o que fica mesmo é o sentimento
que supera as picuinhas, os defeitos, os problemas.
Quando chegou, um grupo à sua espera, os amigos, os companheiros da
entidade assistencial, da irmandade que frequenta, que ajuda a
coordenar. Nesses dias de internamento, foram muitas visitas, ligações,
orações, gente de perto e de muito longe, estou feliz apesar de tudo,
estou vendo que o bem que fazemos é nosso advogado por toda parte. Nos
seus setenta e oito anos de vida, grande parte foram e são dedicados a
obras assistenciais, de cuidado aos irmãos que precisam. Diz uma música
evangélica que existe um "campeão, vencedor"...sim, ele é isso mesmo um
vencedor, um campeão, mas sua vitória não se deve a estar vivo neste
momento, mas a estar vivo desde que nasceu na miséria no Seridó, vindo a
Natal para fugir dela, se estabelecendo em Macaíba com um esposa de
imensa fibra e amor.
Ele poderia ter nascido morto, como alguns de seus
irmãos, poderia ter morrido de fome na seca como filho de sertanejos
miseráveis, como alguns de seus vizinhos, poderia ter morrido bêbado, ou
ter alguma sequela dos vícios do passado, poderia, como viu muitos dos
parentes e amigos, estar ainda sofrendo com doenças ou pela pobreza, mas
resistiu a tudo, viu os parentes e melhores amigos irem embora muito
cedo e agora mais essa, por tudo isso, só posso dizer, eu não tenho
derrotas para contar, apenas vitórias, pois sou filha de um campeão, um
vencedor.
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