Foto: via Rev. Fórum |
Por Jarid Arraes _ Revista Fórum
No último ano, com a aproximação do Dia das Mães, foi publicado no Questão de Gênero um texto que questiona a hipocrisia social
em torno da maternidade. Embora a figura materna seja vista como pura,
bela e amorosa, dando a aparência de que as mães devem ser os seres mais
respeitados do mundo, na realidade elas são desrespeitadas de diversas
formas, agredidas e violentadas quando não se encaixam nos critérios
machistas de maternidade. Muitas também são exploradas à exaustão no
cuidado com o lar e os filhos.
Não é difícil perceber que a sociedade trata as mães como animais de
trabalho sem direito ao descanso. Elas são responsáveis pelos afazeres
domésticos, pela educação das crianças, alimentação e assistência de
todos da família, e, se no meio disso tudo, ainda precisam se enquadrar
no que o machismo dita: para nossa cultura misógina, tem um tipo certa
de mãe, que não pode amamentar em público, não pode ter uma sexualidade
livre e declarada e deve possuir certos tipos de comportamentos para que
seja considerada uma boa mãe.
No dia a dia, há grande sobrecarga de trabalho imposta às mães, pois a subjugação constante dessas mulheres é naturalizada. Se a mãe descansa, cuida de seu lazer e tem relacionamentos para além da maternidade, certamente será difamada por parentes e conhecidos. Mãe, em nossa cultura, não tem direito a individualidade, sexualidade, prazer e autonomia; ela sempre é a culpada por tudo o que der errado em sua família e com seus filhos.
A forma como a sociedade trata a maternidade evidencia o sistema de
dominação e misoginia que explora e violenta as mulheres. Pode-se dizer
que a maternidade não é uma opção, mas sim uma imposição cultural. É por
isso que o direito de escolha ainda é atacado e impedido de todas as
formas, por isso não conseguimos avançar na discussão sobre a
legalização do aborto e por isso não conseguimos enxergar que a responsabilidade pelas crianças é de toda a sociedade, não apenas das mães.
Por isso, chega a dar embrulhos no estômago ver a exploração
midiática e comercial do Dia das Mães – ao mesmo tempo em que familiares
e filhos parabenizam suas mães com vários clichês sexistas, no
cotidiano, eles não são sequer capazes de lavar as próprias cuecas.
Para o segundo domingo de Maio, o melhor e maior presente que as mães
brasileiras poderiam receber seria o presente da equidade entre os
gêneros, da divisão justa de tarefas e da liberdade para amamentar,
sair e ser feliz com plena autonomia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Tenha consciência do que você vai comentar.