Eu conheci uma jovem há quase 30 anos, na casa de praia de seus pais, que eram meus companheiros de Encontro de Casais com Cristo. Na oportunidade, conversamos um pouco e pude constatar o brilho em seus olhos e o riso fácil com que demonstrava sua satisfação e interesse pela vida. Era um tempo de sonhos e realizações para todos nós: ela, estudante secundarista; eu, professor recém chegado de um mestrado. Cada qual com seus sonhos, em uma Natal, ainda pacata, e que despertava devaneios em todos nós. Vieram outros momentos e novos encontros aconteceram, na casa situada no bairro de Lagoa Nova, em uma rua próxima da que eu morava.
Passado aquele período, de boa e breve convivência, seguimos nossos rumos em busca de sonhos antigos e novos. No início do novo século, numa noite de grande alegria, quando tive o prazer de saudar uma turma que concluía a graduação, pude reencontrá-la juntamente com os pais. Ao final da solenidade, no momento dos cumprimentos, tive a grata surpresa de vê-la de braços dados com um jovem que havia sido meu aluno na universidade. Foi uma alegria redobrada ao vê-la feliz da vida ao lado daquele que viria a ser seu esposo anos mais tarde.
Quando publiquei meu primeiro livro, em 2005, visitei a casa dos pais dela e lá estava a já mamãe cuidando da filhinha que se esbaldava na piscina. Fui bem recebido, como sempre, e tive o prazer de ter meu livro adquirido para quem sabe ser lido para a menininha de alegria esfuziante. Vi de novo aquele brilho no olhar da jovem mãe, já sonhando como seria sua filha crescendo, estudando e vivendo intensamente.
Por que estou falando sobre a história de vida da adolescente que eu conheci um dia e se tornou mãe e mulher?
Porque, infelizmente, aquela pessoa tão feliz, que amava a vida, a família e, muito especialmente, sua filha, teve a vida ceifada por uma bala, disparada por alguém que, com o propósito de roubar bens materiais, roubou o bem mais valioso - a vida de GISELA – simplesmente porque ela pediu, de braços erguidos, para liberar sua filha que estava em poder dos assaltantes. Aqui cabem algumas questões para reflexão:
Até quando crimes como este vão ocorrer em nossa Natal que simboliza nascimento e não morte trágica? O que nossa sociedade está fazendo para que tais fatos, tão tristes e deprimentes, não venham mais acontecer? Que medidas enérgicas estão sendo ou devem ser tomadas para coibir acontecimentos tão nefastos?
Com a palavra, e as ações, os governantes e os representantes eleitos pelo povo. Com a palavra, e as ações, a sociedade que precisa estar atenta e sempre mobilizada para cobrar e contribuir com as autoridades, para que as pessoas possam sonhar e viver a vida plenamente.
Que GISELA MOUSINHO PAIVA SILVA seja um símbolo eterno do nosso repúdio contra a violência e que a sua vida não tenha sido perdida em vão!"
MARCOS MEDEIROS, professor aposentado da UFRN.
Via Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Tenha consciência do que você vai comentar.